sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Espelho meu

Todos os dias, quando estava em casa, ia sempre olhar-me ao espelho, fazia caretas, para ver se a minha cara se tinha modificado, mas sempre que a via, tudo permanecia igual e, então, sorria-me para ele…
Porem, houve um dia que tinha ido ver-me enquanto estava a arranjar-me, só que… de repente, assustei-me logo…
Tinha mudado! Que se passava? Não entendia o porquê. Aquela pessoa não era eu. Falei para mim mesma, mas que raio é que a Luzia está ali a fazer? Só podia estar possuída, senti-me estranha, diferente. Senti-me mulher, adulta, ou seja… eu… Era apenas uma rapariga de 16 anos e agora com o corpo de uma mulher que parecia ter uns 30 e tal anos. Dantes, eu era uma rapariga baixinha com apenas um metro e 59, cabelo encaracolado, olhos castanhos-claros, rebelde e adolescente. Era uma jovem muito sorridente, simpática, brincalhona, divertida e meio tonta. Agora, ali reflectida, sentia-me tão estranha com um corpo de uma senhora. Uma mulher alta, com cabelo encaracolado e comprido, com olhos castanhos e pele clara. Era sorridente, sim! Mas não queria isso, queria voltar ao normal, a ser EU! Só que percebi como é que seria possível. Como é óbvio, quase enlouqueci. Tinha de me habituar a ser ELA, enquanto me olhava para o espelho assustava-me com o seu sorriso trocista, e eu cada vez chorava mais e balbuciava:
- Porque é que isto me aconteceu? Que mal fiz eu? Deixa-me voltar ao normal, por favor! Sai daqui Luzia…
Ela, dentro de mim… :
- Não vou sair, vais sofrer imenso com isso.. A culpa não foi minha, foi do destino… Se calhar estavas destinada a ser eu!
- Não brinques com uma coisa dessas, por favor, que não estou a achar piada nenhuma.
Via os gestos dela… O seu sorriso de zombadora, só me dava vontade de partir o espelho e nunca mais o ver… Em vez disso, saí a correr, gritei:
- Por favor, pára de me atormentar… Eras boa e agora fazes-me isso porquê?
Luzia com um sorriso:
- Porque queria voltar a ser jovem, fartei-me de ser adulta! Deixas me ser jovem por um dia?
E eu… A chorar… Titubeava:
- Se deixo? Até à meia noite e depois devolves me a adolescência, pois, já sinto a falta dela, enquanto tu és EU, não faças nada, não cometas nenhum, erro, ouviste?
Se vires alguém conhecido, tenta fugir, por favor. Bom, vou ter que sair, pois já que eu sou TU…! Vou aproveitar ouvir, ou seja, ouvir perfeitamente bem por apenas um dia, quero que seja inesquecível, vou para as aulas, vou exercer a minha temporária profissão de intérprete de LGP..
Ela que é EU… :
- Não farei nenhum disparate, prometo.
E eu… :
- Está bem… Até logo à meia noite…
Ambas aproveitaram bem o dia, quando chegou a meia noite, sentaram-se na cama a conversar…
- Nunca mais quero ser adolescente, nunca mais…
- E eu é que não quero ser adulta, credo…
E sim, ambas aprenderam a lição… Nunca mais voltaram a cometer o mesmo equívoco, cada uma contente com o seu corpo ter voltado à real dona..

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